Colleen Hoover regressa ao grande ecrã com um drama sobre perdas, segredos e recomeços... Baseado no livro “Regretting You”, desta autora, o filme “Sempre Tu” chega aos cinemas para explorar um dos temas mais delicados da vida: o reencontro entre mãe e filha depois de uma tragédia. Realizado por Josh Boone, o mesmo de “A Culpa é das Estrelas”, e contando com Allison Williams, Mckenna Grace e Dave Franco nos principais papéis, este drama romântico tenta equilibrar luto, perdão e amor com uma leveza que o torna, ao mesmo tempo, familiar e comovente.



E aqui vos venho falar deste filme, a que tive o privilégio de assistir à sua antestreia. A história centra-se em Morgan Grant (Allison Williams) e na filha Clara (Mckenna Grace), que vêem as suas vidas viradas do avesso após um acidente devastador que tira a vida ao marido de Morgan, Chris (Scott Eastwood), e à sua irmã Jenny (Willa Fitzgerald), tia e confidente de Clara. A partir desse momento, mãe e filha são obrigadas a enfrentar o vazio, as mágoas antigas e segredos há muito guardados, num processo doloroso, mas inevitável de reconciliação.

 

O argumento, assinado por Susan McMartin, adapta com fidelidade o romance de Hoover, que se tornou um fenómeno global. E talvez por isso, o filme parta já com uma carga emocional elevada, sobretudo para os leitores que se deixaram tocar pela escrita crua e íntima da autora. Colleen Hoover, que aqui assume também o papel de produtora executiva, confessou que se emocionou ao ver a primeira montagem: “Aquela cena era tão fiel ao livro que percebi logo que respeitaram a minha visão.”




Mas, como em quase todas as adaptações literárias, há perdas. Boone e o elenco esforçam-se para manter a densidade emocional do texto, mas “Sempre Tu” parece por vezes demasiado contido, como se tivesse medo de mergulhar verdadeiramente na dor. O luto surge mais como pano de fundo do que como força motriz. E é pena, porque o filme tinha matéria-prima para algo maior. Poderia ser um pouco mais intenso, mas tal como é, não deixa de nos emocionar...

 

Ainda assim, há momentos em que o filme encontra o seu tom. Boone volta a mostrar o cuidado em retratar o quotidiano com ternura: os gestos simples, os silêncios, o desconforto entre mãe e filha, e a fotografia delicada e a banda sonora intimista ajudam a criar esse ambiente de reconciliação. Mckenna Grace é o coração da narrativa: natural, carismática, convincente. Allison Williams mantém o equilíbrio entre fragilidade e força, e Dave Franco, mais contido, funciona como o contraponto emocional de Morgan, sem nunca lhe roubar o foco.

 


Franco, aliás, tem um motivo extra para ver o filme ganhar destaque em Portugal: o actor revelou, recentemente, numa entrevista, o seu orgulho pelas raízes madeirenses, herdadas do avô paterno, e deixou no ar a promessa de visitar o nosso país em breve. Tal não deixa de ser uma ligação curiosa e simbólica, já que “Sempre Tu” é também um filme sobre raízes, as que nos prendem e as que nos permitem recomeçar.

 

No fundo, esta é uma história sobre perdas que se transformam em pontes, sobre feridas que aprendem a cicatrizar e sobre relações que renascem da fragilidade. Boone evita o melodrama fácil e aposta numa condução sincera, próxima, quase doméstica. Mesmo quando o guião acelera ou se rende a clichés, e há alguns, a emoção consegue resistir.

 


“Sempre Tu” não é um filme perfeito, mas é um filme honesto. Fala sobre amor e arrependimento, sobre crescer e perdoar, e sobre a coragem de reconstruir o que parecia perdido. Como a própria Colleen Hoover costuma lembrar, “a vida é por vezes triste, tal como as nossas histórias, mas é no meio dessa tristeza que encontramos os momentos de verdadeira alegria.”

 

No fim, fica a sensação de que, apesar das suas fragilidades, “Sempre Tu” tem o "coração" no sítio certo. E talvez seja isso o que mais importa: lembrar-nos de que o amor, mesmo imperfeito, é sempre um ponto de partida e de regresso. E às vezes, são as histórias mais simples aquelas que nos "tocam" mais...

 


 

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