Há filmes que chegam para cumprir uma promessa e outros que chegam para a ultrapassar. Para mim, “Wicked: Pelo Bem” pertence claramente à segunda categoria. Se a primeira parte já me tinha deixado rendido ao universo renovado de Oz, este segundo capítulo agarrou-me pela emoção, pela grandiosidade e, sobretudo, pelo modo como celebra duas mulheres que, juntas, são pura força transformadora. Saí do cinema a pensar: “é por isto que adoro musicais”.



A luz, a sombra e tudo o que existe entre as duas

 

Cynthia Erivo e Ariana Grande são, sem exagero, um acontecimento. A química entre ambas é daquelas que não se força, sente-se. Erivo, com aquela presença intensa e uma voz que arrepia, dá a Elphaba uma dignidade que transcende a personagem; Ariana, por sua vez, surpreende ao encarnar uma Glinda que não é só brilho, mas também fragilidade, crescimento e coragem. Sempre que as duas partilham o ecrã, tudo o resto desaparece. E confesso: houve momentos musicais em que senti o coração a bater mais depressa, como quando um musical em grande escala atinge aquela nota emocional perfeita.

 

O filme é um regalo visual. Há cenários que parecem pinturas, figurinos que poderiam muito bem sair de um editorial de alta-costura, e uma direção artística que abraça o “teatral” de forma intencional, elegante e arrebatadora. Percebe-se que houve um cuidado extremo em manter o espírito do musical original, mas também em modernizá-lo, torná-lo mais acessível, mais cinematográfico, mais… mágico.

 

 

E depois há a mensagem, tão mais adulta do que muitos imaginam. A forma como se fala de poder, de verdade manipulada, de como a sociedade escolhe quem idolatra e quem demoniza, é surpreendentemente atual. Elphaba continua a ser o espelho de todos aqueles que nunca se encaixaram, e Glinda representa o conforto sedutor de ser sempre “a boa”, mesmo quando isso exige silêncio. Esta dualidade dá ao filme uma profundidade que não vi discutida o suficiente e que, para mim, é uma das suas grandes forças.

 

 

O impacto de um final que fica connosco

 

Tenho lido várias críticas que apontam falhas ou desequilíbrios, mas, honestamente, para mim isso quase não importa, ou melhor, importa menos do que a sensação que levei comigo. Sim, talvez o foco narrativo oscile mais para a Glinda, talvez certas passagens se estendam um pouco, mas nada disso me tirou do encantamento. Pelo contrário: senti que o filme me deu exatamente aquilo que precisava: emoção, espetáculo, entrega e um desfecho que honra tudo o que veio antes.

 


Quando os últimos acordes soaram, percebi que estava ali a assistir não só ao fim de uma história, mas ao culminar de uma amizade que marcou o cinema recente. Saí a pensar em como ambos os filmes falam sobre sermos vistos, compreendidos e, acima de tudo, sobre termos o direito de criar o nosso próprio destino. E isso, quando dito através de canções poderosas e duas protagonistas brilhantes, ganha um significado muito especial.

 


No fim de contas, “Wicked: Pelo Bem” não é apenas um musical exuberante; é uma celebração da diferença, da coragem e da escolha de fazer “o bem” mesmo quando o mundo tenta empurrar-nos para o contrário. É a magia de acreditar no impossível. E eu adorei, mesmo. É o tipo de filme que levo comigo, que volto a pensar dias depois, e que me lembra porque é que continuo apaixonado por cinema.

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