Não é pelo período de Halloween que acabou de passar, mas de facto, esta é uma realidade que decidi abordar. Das coleções de luxo das passarelas aos ecrãs de televisão, a adoração da moda por temas negros e góticos tem perdurado como um símbolo misto de rebeldia e elegância. A estética gótica utiliza o preto de forma consistente como uma ferramenta narrativa poderosa, simbolizando mistério, transgressão e uma profundidade emocional que ressoa. Do fascínio de Alexander McQueen por motivos sombrios às silhuetas vanguardistas de Rick Owens, o preto transcende a sua tradicional associação com o luto para se tornar um símbolo de elegância subversiva. Neste ano de 2024, designers como Robert Wun e a dupla Dolce & Gabbana reinterpretam o traje de viúva, enquanto Balenciaga explora narrativas distópicas, reafirmando o preto como um ícone de complexidade e audácia. Referências televisivas e cinematográficas, como em “Wednesday” e o regresso de “Beetlejuice”, 36 anos depois, continuam a inspirar, demonstrando como o preto se perpetua na moda como expressão de fascínio gótico e intemporal.

Coleção outono/inverno 2009 "Horn of Plenty" de Alexander McQueen

Embora a influência do preto tenha evoluído, ela é profundamente enraizada em movimentos históricos, como o vestuário de luto vitoriano, em que a cor comunicava uma reverência perante a mortalidade. Porém, no início do século XX, Coco Chanel veio redefinir essa associação pesada ao lançar o seu “Little Black Dress”, transformando-o num elemento versátil e sofisticado. Mais tarde, a década de 1960 consolidou essa transição com o icónico vestido de Givenchy para Audrey Hepburn no filme “Boneca de Luxo” (“Breakfast at Tiffany's”), mudando a simbologia do preto de um elemento de luto do pós-guerra para assumidamente um símbolo de elegância.

Audrey Hepburn, Breakfast at Tiffany's, 1961

 

Alexander McQueen revolucionou o uso da estética gótica no final do século XX, utilizando o preto em temas como vida, morte e condição humana, materializados em silhuetas dramáticas e detalhes meticulosamente elaborados. O seu fascínio pelo sombrio teve início com a sua coleção de graduação, “Jack the Ripper Stalks His Victims” (1992), na qual incorporou elementos pessoais nas peças como uma homenagem à tradição vitoriana. Com espetáculos icónicos, McQueen mesclou referências históricas com exibições de beleza visceral, culminando em desfiles onde o preto era mais do que uma cor — era uma narrativa complexa.

 

Rick Owens apresentou uma fantasia distópica - primavera/verão 2024

 

Rick Owens, outro ícone da moda de vanguarda, emprega o preto em silhuetas não convencionais, comunicando rebeldia e individualismo. Já designers como Robert Wun e Dolce & Gabbana reinterpretam o traje tradicional de viúva, explorando a complexidade do amor e do luto através do preto. Na coleção de alta-costura de Robert Wun para o outono/inverno de 2024, o estilista reflete sobre a mortalidade com criações que simbolizam a fragilidade da existência, abordando temas existenciais e celebrando a beleza inerente aos finais.



Coleção de alta-costura outono/inverno '24 de Robert Wun


A subcultura gótica começou no Reino Unido, no início dos anos 80, e surgiu como resultado direto do movimento punk. Influenciado por algumas bandas como The Cure, Sisters of Mercy e Banshees, este estilo tornou-se popular depois de o visual punk-rock ter colocado uma vertente dura na moda. Suavizou a rebeldia da estética punk e criou o seu próprio estilo, muito distinto e chamativo, que ainda hoje é visto na moda moderna, tal como prova este meu post. Definido pela sua preferência por vestuário preto, rendas intrincadas, detalhes em pele e silhuetas dramáticas, o estilo de moda gótico transcende a moda convencional, adoptando uma estética cativante inspirada nas influências vitorianas. Não se trata apenas de vestuário, mas de uma forma de expressão artística e de identidade.

 


O fascínio pelos temas góticos permeia igualmente o cinema, desde “O Bebé de Rosemary” (1968) a “Os Pássaros” (1963), influenciando coleções como a primavera/verão de 1995 de McQueen. Conforme afirmado antes, filmes como “Beetlejuice” e séries como “Wednesday” continuam a moldar o imaginário gótico contemporâneo, destacando o preto como elemento de autoexpressão e comentário social. No mesmo espírito, filmes como “A Morte Fica-Vos Tão Bem” (1992) reavivam o fascínio pelo horror "campy", mostrando protagonistas que desafiam as convenções, com uma mistura de glamour e humor sombrio, redefinindo a estética feminina na moda e na cultura pop.

 

 

A relojoaria de luxo também adota o preto, com modelos como o “Big Bang Original Black Magic” da Hublot e o “BR 03-94 Blactrack” da Bell & Ross, por exemplo, promovendo um minimalismo sofisticado que une tradição e inovação. Estes modelos ultra-pretos, que se juntam ao “Lange 1” da A. Lange & Söhne, ao “Chronomaster Revival Shadow”, da Zenith e ao “Speedmaster Dark Side of the Moon2, da Omega, confirmam a tendência do negro, especialmente no domínio dos mostradores, e tornam-se símbolos de subtileza e poder técnico, expressando uma elegância duradoura e moderna.

 

Em suma, as sensibilidades góticas e o fascínio pelo preto continuam a influenciar profundamente a moda e o design. O preto, mais do que uma cor, representa rebelião, mistério e profundidade emocional, um símbolo estético e filosófico que atravessa gerações e contextos, sempre renovado nas interpretações contemporâneas da alta moda e cultura visual.

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O desfile da conhecida marca de lingerie regressou, quase seis anos depois do último, na noite de terça-feira, dia 15 de outubro, em Nova Iorque. O último Victoria's Secret Fashion Show tinha ocorrido em 2018 e agora parece que está de volta o grande espetáculo, o maior de uma marca de lingerie. Após 23 anos de desfiles memoráveis, os executivos da Victoria's Secret tinham confirmado que o desfile de moda de 2019 seria cancelado. E assim foi. Antes de uma pandemia que não se adivinhava vir a a acontecer...

Neste regresso, várias e muito conhecidas modelos como Tyra Banks, Irina Shayk, Gigi Hadid e Adriana Lima desfilaram num show que contou, mais uma vez, com um elemento de grande destaque: a música. Além de Cher, também atuaram Tyla e Lisa. Mas isso já todos sabem ou viram. Agora, o que me leva a falar do Victoria's Secret Fashion Show é o facto de que seis anos depois, o evento tenha regressado com a promessa de que seria mais inclusivo.

O Victoria's Secret Fashion Show, lançado em 1995, rapidamente se tornou um evento icónico, associando-se ao glamour de supermodelos como Naomi Campbell, Gisele Bündchen e Miranda Kerr, que desfilaram em lingerie, asas e elaborados pijamas ao longo dos anos. A primeira transmissão televisiva ocorreu em 2001 na ABC, consolidando ainda mais o espetáculo. A portuguesa Sara Sampaio destacou-se como um dos "anjos" da marca entre 2015 e 2018.

No entanto, apesar do êxito, a Victoria's Secret começou a enfrentar um declínio nas vendas a partir de 2016, e o desfile de 2018, segundo a CNBC, registou a pior audiência de sempre. A crítica apontava para a objetificação das mulheres e a ausência de diversidade corporal nas modelos escolhidas. Na época, o ex-diretor de marketing Ed Razek gerou controvérsia ao afirmar à Vogue que a marca não incluiria modelos transgénero ou plus size nos desfiles. Razek acabou por retratar-se publicamente após a forte reação negativa. Ainda em 2018, a marca tentou ampliar a diversidade ao contratar 19 modelos negras, incluindo Winnie Harlow, a primeira modelo com vitiligo a desfilar para a Victoria's Secret. Contudo, Razek viria a deixar o cargo em agosto de 2019, marcando o início de uma fase de reformulação para a marca.

Seis anos depois, o Victoria's Secret Fashion Show voltou com mais força do que nunca, apresentando um elenco diverso com modelos plus size, transgénero, negras e até modelos com mais de 50 anos. O espetáculo começou com uma atuação de Lisa, cantora tailandesa e membro do grupo sul-coreano Blackpink. Na passarela, modelos como Ashley Graham e Paloma Elsesser desafiaram o estereótipo típico da marca – tradicionalmente associado a mulheres brancas, altas e magras. O evento contou ainda com a presença de brasileiras de destaque, como Adriana Lima, Alessandra Ambrósio e Isabeli Fontana, que desfilaram como verdadeiros 'anjos' da marca. No entanto, a ausência de Gisele Bündchen foi sentida por muitos.

Outro momento histórico foi protagonizado por Valentina Sampaio, primeira modelo transgénero a desfilar para a Victoria's Secret. A modelo e atriz brasileira de 26 anos, que já havia feito história ao ser a primeira mulher transgénero a aparecer na capa da Vogue, alcançou mais um marco ao integrar este desfile tão icónico. Modelos com mais de 50 anos também brilharam no evento. Kate Moss desfilou ao som de "I Love Rock N' Roll", acompanhada de outras veteranas como Carla Bruni, de 56 anos, e Eva Herzigova, de 51.


O espetáculo incluiu ainda uma representação racial diversa, com a cantora sul-africana Tyla como segunda atração musical da noite. Ela chegou a vestir as emblemáticas asas da Victoria's Secret, um símbolo da marca. O evento culminou com Cher, que fez o encerramento ao som de "Do You Believe in Life After Love?" enquanto as modelos exibiam lingeries vermelhas. A última a pisar a passarela foi Tyra Banks, lenda dos anos 90 e atualmente modelo plus size, que desfilou com sorrisos e energia enquanto confetes caíam, encerrando o desfile acompanhada por todo o elenco do espetáculo.

A icónica Tyra Banks, agora com 50 anos, brilhou no Victoria's Secret Fashion Show depois de uma longa ausência. A supermodelo, que geriu a marca enquanto desfilou por nove edições, afastou-se em 2005, mas voltou com um impacto marcante. Banks deslumbrou ao usar uma capa prateada com forro preto, um corpete enfeitado com cristais, leggings cintilantes e saltos altos, apresentando um visual arrojado que arrancou aplausos do público. O seu regresso à passarela foi acolhido com entusiasmo pela multidão, ao som da icónica música "Native New Yorker", da banda Odyssey.

Vamos ver se este foi um caso isolado ou se para o ano voltaremos a ter mais um Victoria's Secret Fashion Show.











 

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O terror psicológico e o suspense regressam aos cinemas com a tão esperada estreia de “Sorri 2”. Parker Finn traz-nos uma nova e surpreendente continuação do filme de terror revelação de 2022, aprofundando a maldição que atormenta as personagens, através de uma história perturbadora, cheia de tensão e mistério. Neste “Sorri 2”, Finn, que também assina o argumento, volta a explorar a maldição de uma entidade sobrenatural que se alimenta de traumas e se manifesta através de um sorriso sinistro.

A história acompanha Skye Riley (Naomi Scott), uma estrela da música pop em ascensão prestes a embarcar numa digressão mundial, mas que começa a enfrentar acontecimentos cada vez mais assustadores e inexplicáveis. À medida que os horrores aumentam e as pressões da fama se tornam insuportáveis, Skye é obrigada a confrontar o seu passado sombrio para tentar retomar o controlo da sua vida. Naomi Scott, cantora e atriz britânica, assume o papel principal, colaborando ainda em algumas das músicas originais do filme, incluindo o videoclipe do tema “Grieved You”. O elenco inclui também Ray Nicholson, filho de Jack Nicholson, no papel de Paul Hudson, namorado de Skye. O ator, de 32 anos, segue assim os passos do pai, ao entrar no género de terror.

 


Inserido no universo pop, a sequela de “Sorri” oferece uma perspetiva inovadora sobre o terror psicológico, recorrendo a uma impressionante combinação de efeitos especiais para criar imagens realistas e perturbadoras. O primeiro filme, estreado em 2022, tornou-se um fenómeno nos cinemas, surpreendendo os fãs do género e arrecadando mais de 215 milhões de dólares nas bilheteiras mundiais. Com o conceito perturbador da “maldição do sorriso” e uma narrativa cheia de sustos, o filme original, inspirado na curta-metragem “Laura Hasn't Slept”, foi um sucesso. Agora, dois anos depois, Parker Finn regressa com uma sequela ainda mais alucinante e aterradora.

Enquanto o primeiro filme se focou em explicar os conceitos da maldição, “Sorri 2” aproveita a liberdade de explorar e expandir esse universo, entregando uma narrativa mais divertida, intensa e sangrenta. A ligação entre a maldição e a história de Skye é apresentada de forma natural e impactante, oferecendo uma reflexão profunda sobre as pressões da fama. A realização de Finn, em colaboração com o diretor de fotografia Charlie Sarroff, utiliza de forma eficaz os sorrisos macabros, alternando entre momentos assustadores e cómicos. À medida que Skye é consumida pela maldição, as cenas violentas e sangrentas aumentam em intensidade, refletindo o seu colapso mental.

 

Este novo capítulo usa as bases estabelecidas no primeiro filme para elevar ainda mais o terror, com uma história maior, mais intensa e violenta. A ligação entre os dois filmes é feita através de Joel (Kyle Gallner), personagem que, no final do primeiro filme, herdou a maldição após testemunhar a morte de Rose. Esta sequência começa com o retorno de Joel, desesperado a tentar livrar-se da maldição. Ele coloca em ação o plano de passá-la para um traficante, que acaba por morrer antes do tempo. Para sua sorte, Lewis Fregoli (Lukas Gage) estava no local e torna-se o novo hospedeiro, passando a maldição para Skye Riley.

Sem querer ser spoiler, posso apenas adiantar que o final é extremamente violento, deixando-nos numa incerteza entre o que é real e o que é alucinação, à medida que a maldição toma conta de Skye. O desfecho está aberto a múltiplas interpretações, com os eventos a desenrolarem-se de forma caótica.

 

Considerado pela crítica como um dos melhores filmes de terror do ano e aguardado com grande expectativa pelos fãs, “Sorri 2” já estreou em cinemas por todo o país, prometendo mais sustos e sorrisos aterradores. Não percam!

 


 


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A capital portuguesa foi distinguida como o Melhor Destino Culinário da Europa nos World Culinary Awards, superando cidades como Barcelona, Copenhaga, Florença, Londres, Paris e Viena. Este evento também reconheceu o Porto como a Melhor Cidade Culinária Emergente da Europa, e o restaurante Vila Joya foi consagrado como o Melhor Restaurante Fine Dining e de Hotel.

 

Embora se discuta bastante o estado atual da restauração em Lisboa, a verdade é que ainda se come muito bem por cá. A cidade oferece boas tascas de comida portuguesa, restaurantes de cozinha internacional de grande qualidade e conta com 17 restaurantes estrelados pelo guia Michelin, o que a levou a conquistar, pela primeira vez, o título de Melhor Destino Culinário da Europa. A distinção foi anunciada a 2 de outubro, durante a 5ª edição dos World Culinary Awards, cuja cerimónia decorreu no Dubai. Refira-se que, na edição anterior, a cidade de Paris havia sido galardoada com este título.

 

 

Descobrir novos sabores, experimentar a cozinha tradicional, explorar a gastronomia ou simplesmente degustar bons pratos são diferentes formas de experienciar um destino. E Lisboa, a cidade dos sabores, tem realmente muito a oferecer nesse sentido. A gastronomia lisboeta, influenciada pelos paladares de todo o país, baseia-se na dieta mediterrânica, rica em ingredientes, aromas e texturas únicas e cativantes. A oferta diversificada e de qualidade, reconhecida a nível internacional, foi um dos fatores decisivos para que Lisboa superasse outras capitais europeias na corrida a este título.

 

"A gastronomia é um dos pontos-chave na escolha de um destino turístico e há muito que Lisboa é reconhecida pela sua oferta diversificada e de qualidade", salienta em comunicado a Associação Turismo de Lisboa (ATL). "Desde os restaurantes típicos e locais com comida tradicional aos restaurantes de autor e de chefs com estrelas Michelin que reinterpretam os sabores clássicos, há uma vasta seleção que atrai visitantes de todos os cantos do mundo", acrescenta, referindo-se aos chefs que, nos últimos anos, trouxeram estrelas e prestígio à cidade. Entre eles, destacam-se Henrique Sá Pessoa, no Alma, e José Avillez, no Belcanto, ambos com duas estrelas Michelin.

 

 

Os World Culinary Awards, “irmãos” dos World Travel Awards, têm como objetivo celebrar a cultura gastronómica global e incentivar o turismo culinário. Estes prémios reconhecem as melhores práticas e inovações no sector, abrangendo diversas categorias, desde restaurantes e chefs a hotéis e outros estabelecimentos relacionados com a gastronomia, com os vencedores a serem escolhidos através de votação pública.

 

Foi também uma noite de destaque para o Vila Joya, em Albufeira, liderado pelo chef Dieter Koschina, que detém duas estrelas Michelin. O restaurante foi eleito o Melhor Restaurante Fine Dining e o Melhor Restaurante de Hotel em Portugal. Já o Belcanto, de José Avillez, também com duas estrelas, foi reconhecido como o Melhor Restaurante de Portugal.

 


 

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Há personagens de banda desenhada que se tornaram imortais, e esta é, sem dúvida, uma delas. A eterna contestatária criada por Quino na Argentina teve, na realidade, uma curta vida de apenas dez anos. Porém, hoje continua viva como nunca. 60 anos depois, Mafalda continua a perguntar-se porque permanecemos silenciosos e inertes, porque ainda fazemos tão pouco. Sempre atual e necessária, a menina continua activa e vigente seis décadas após a publicação da sua primeira tira, no semanário argentino "Primera Plana".

Persistente e questionadora, com o seu cabelo desalinhado, enfeitado com laço em forma de borboleta e vestido vermelho, Mafalda permanece viva seis décadas após a sua criação. Apesar de o seu autor, Joaquín Salvador Lavado, mais conhecido como Quino, ter desenhado a personagem por apenas uma década (de 1964 a 1973), a menina continuou a deambular entre as nuances da História e, sobretudo, as lutas dos povos. Os seus questionamentos abordavam temas como guerra, injustiças, direitos humanos e democracia, sempre com muita ironia e humor sarcástico. Foi assim que conquistou fãs em todo o mundo. Sem hesitações, esteve presente em diferentes contextos de autoritarismo – alguns extremamente violentos, outros ainda mais, pois afinal todo autoritarismo o é – fazendo uso de metáforas como sopas e cassetetes para mostrar a importância de fazer perguntas, mesmo quando perguntar podia ser perigoso.

 


 

Schulz, com o seu Charlie Brown, já tinha introduzido a ideia de que as tiras de banda desenhada humorísticas tinham a "obrigação" de fazer rir. A introspecção já interessava os leitores desse género na altura. Se “fazer pensar” não era algo novo, talvez o “incomodar”, o “provocar”, o “tirar as pessoas da zona de conforto” e o “colocar o dedo na ferida” que Quino trouxe com Mafalda fossem as suas grandes inovações. Aliás, as bandas desenhadas argentinas têm muitas referências a estas crónicas do quotidiano, como exemplifica Oesterheld com o seu Eternauta (obra de ficção científica escrita pelo autor argentino Héctor Germán Oesterheld, com arte de Francisco Solano López, publicada inicialmente entre 1957 e 1959 na revista “Hora Cero Semanal”. Em 1969, Oesterheld lançou um remake com arte de Alberto Breccia, e em 1976 uma sequência com Solano López. Estas versões tinham um tom mais político, refletindo o contexto do golpe militar na Argentina. Nessa época, Oesterheld juntou-se ao grupo guerrilheiro Montoneros, tendo desaparecido em 1977, enquanto terminava o guião da continuação de “O Eternauta”).

 

 

Voltando a Mafalda, ela foi inicialmente criada para ser a imagem de uma campanha publicitária de uma máquina de lavar da marca Mansfield, que fora cancelada pelos executivos. Não tendo sido utilizada como símbolo de consumo, encaixou-se perfeitamente como símbolo de questionamento aos padrões capitalistas burgueses e ao status quo dominante da sua época (e dos tempos que se seguiram).

 

Erguendo-se da Argentina, a "voz" de uma menina de seis anos tornou-se uma improvável anti-heroína mundial com as suas falas ingenuamente ácidas e profundamente inconformistas. Sob a aparência de uma infância inocente, tocou em temas sociais sensíveis, fez críticas certeiras à geopolítica, apontou preocupações sociais urgentes e questionou os adultos que, do lado de fora das tiras, permaneciam em silêncio. Curiosamente, até hoje continua a fazer-nos as mesmas perguntas.

 

 

Quino deixou de publicar Mafalda após uma década de tiras diárias. Afirmava que havia um sério risco de se repetir. Hoje podemos compreender essa decisão. Os ciclos históricos provaram-se desconfortavelmente circulares, inclusive nos seus erros, violações e violências. Embora a publicação regular de Mafalda tenha terminado há mais de 50 anos, em junho de 1973, Quino ainda desenhou a personagem em algumas ocasiões especiais. E Mafalda não parou. Apropriada pelo povo, continuou nas ruas, ganhando novos significados. Tornou-se um ícone feminista, associou-se a várias causas progressistas e emprestou o seu inconformismo a diversas lutas contra-hegemónicas em todo o mundo.

 


 

 

Quino foi uma vez questionado sobre como seria o futuro de Mafalda se ela tivesse crescido e se teria realizado o sonho de ser intérprete da ONU para ajudar a mediar conflitos e alcançar a paz mundial. O autor respondeu que, se Mafalda tivesse crescido, provavelmente estaria entre as vítimas desaparecidas das ditaduras argentinas. Esta sua resposta, dura na sua essência, sublinha a importância de a pequena e incómoda menina continuar a estar presente, rebelde como sempre, para além dos contratos editoriais e do tempo do seu criador (que nos deixou em 2020), desafiando as nossas conveniências e zonas de conforto. As tiras de Mafalda foram traduzidas para mais de 30 idiomas e os seus livros venderam mais de 20 milhões de exemplares só na Argentina.

 

Mafalda prossegue connosco, a emitir novos olhares sobre este tempo cinzento no qual convivemos, a aprendermos com o passado para termos o direito de sonhar com um futuro melhor. Ao respeito, Paul Ricoeur, um dos grandes filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, ensinou-nos, de forma pertinente: “nem sempre a linha que divide história e ficção é evidente. Trata-se, em muitos momentos, de um alinhavo composto por duas linhas, compondo pontos que se sobrepõem, onde um campo permeia o outro”.

 


 

Neste seu sexagenário, há várias formas de celebrar Mafalda por cá. "Toda a Mafalda" é uma "edição completa que reúne todos os desenhos e tiras que Quino, o seu brilhante criador, fez da sua personagem mais querida. Com prefácio de Umberto Eco, que considera a Mafalda 'a heroína do nosso tempo', esta edição inclui uma contextualização histórica das tiras, homenagens de personalidades internacionais e portuguesas do mundo das artes e do espetáculo, entre outros materiais inéditos, que nos mostram que, após sessenta anos, as observações ousadas e perspicazes da Mafalda continuam tão pertinentes como nunca", lê-se na sinopse desta obra reeditada. O livro conta ainda com diversa informação que ajuda a contextualizar a personagem e os acontecimentos históricos da época.

 

Para quem não se quiser as tiras completas, tem sempre a hipótese do livro "O Indispensável da Mafalda". E mais: há uma opção para crianças — "Mafalda para miúdos" — e outra para quem se quiser centrar apenas no feminismo — "Mafalda: Feminino Singular".

 

Além disso, as comemorações vão continuar no festival Amadora BD que, entre 17 e 27 de outubro, apresenta uma exposição dedicada a Mafalda, onde vai ser possível entrar no universo no qual a personagem vive, pensa, protesta e se revolta – e que, apesar do tempo passado, permanece atual.

 

 


 

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"Transformers: O Início" revela a história inédita das origens de Optimus Prime e Megatron, conhecidos pela sua rivalidade feroz, mas que outrora foram amigos, unidos como irmãos, e cujo relacionamento alterou o destino de Cybertron para sempre. Este filme de animação, realizado por Josh Cooley e produzido pela Paramount e pela Hasbro, representa uma mudança significativa na narrativa e no formato da franquia, explorando profundamente as origens destas duas figuras icónicas antes do seu célebre conflito. Ao contrário dos filmes anteriores, esta obra não conta com a presença de personagens humanas, focando-se inteiramente nos Transformers, o que foi amplamente elogiado por permitir uma maior imersão na rica história do seu planeta natal.

Com uma abordagem emocional e humorística que confere mais profundidade às personagens, o filme destaca-se das produções anteriores, que muitas vezes privilegiaram cenas de ação explosivas em detrimento de tramas emocionais complexas. Em "Transformers: O Início", o verdadeiro destaque é a exploração dos cenários de Cybertron e das suas personagens. A narrativa emerge de forma natural à medida que conhecemos este mundo. Muito antes de serem Optimus Prime e Megatron, Orion Pax (voz de Chris Hemsworth) e D-16 (Brian Tyree Henry) eram operários e amigos inseparáveis num Cybertron em crise. No entanto, ao descobrirem as mentiras das autoridades, personificadas pelo arrogante Sentinel Prime (Jon Hamm), os seus caminhos divergem, dando origem ao conflito que todos conhecemos.

Além disso, o filme encanta visualmente com uma animação de alta qualidade e um design criativo que combina de forma interessante elementos artificiais e naturais. As mudanças subtis nas armaduras das personagens refletem as suas fases de transformação, proporcionando tanto uma nova forma de cativar os fãs como uma estratégia comercial eficaz.

A saga cinematográfica "Transformers", que começou em 2007, sempre teve um forte desempenho nas bilheteiras, apesar das críticas mistas. Os cinco primeiros filmes, realizados por Michael Bay, arrecadaram mais de 4,3 mil milhões de dólares. Assim, "Transformers: O Início" é uma obra que agrada tanto esteticamente como no seu discurso pop, funcionando mais como um novo começo do que uma simples revisita às origens, com potencial para revitalizar toda a franquia.

A estrear nas versões dobrada e legendada, “Transformers: O Início” conta com as vozes portuguesas de Vítor Silva Costa (na sua primeira dobragem), NBC, Diogo Morgado, Gabriela Barros, Diogo da Silva (Movemind), José Mata e, na versão original, o elenco tem as vozes de Chris Hemsworth, Brian Tyree Henry, Scarlett Johansson e Keegan-Michael Key, entre outros.

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Na noite passada, a 15 de setembro, decorreu a 76ª edição dos Prémios Emmy, que voltou a distinguir as melhores produções televisivas. Entre os principais vencedores estiveram “Shogun”, “The Bear” e “Baby Reindeer”, embora outras séries também tenham brilhado. Na edição de 2024, “Hacks” foi coroada como a melhor série de comédia, enquanto “True Detective: Night Country” e “Slow Horses” também foram premiadas.

 


A cerimónia, realizada em Los Angeles, quase confirmou as expectativas ao premiar as produções mais nomeadas. “Shogun” destacou-se como o grande vencedor da noite, arrecadando várias estatuetas nas categorias de drama, com 18 prémios, incluindo os Creative Arts Emmys. Apesar disso, “Baby Reindeer” também se impôs, conquistando quatro dos principais Emmys. Contudo, na categoria de comédia, “The Bear”, que liderava com 11 nomeações, viu “Hacks” ser premiada como melhor série de comédia, apesar de “The Bear” ter vencido em várias categorias de interpretação.

 

 

“Shogun” levou para casa os Emmy de Melhor Série Dramática, Melhor Ator Principal numa Série Dramática (Hiroyuki Sanada), Melhor Atriz Principal numa Série Dramática (Anna Sawai), e Melhor Realização em Série Dramática (Frederick E.O. Toye). Esta série, falada em japonês, não só quebrou recordes de prémios numa só temporada, como também se tornou a primeira série em língua não inglesa a vencer o Emmy de Melhor Série Dramática, consagrando 2024 como o ano de “Shogun”.

 

 

A cerimónia foi apresentada pela dupla de pai e filho, Eugene e Dan Levy, conhecidos pela série de comédia “Schitt’s Creek”. Sem grandes momentos políticos, os Emmy 2024 tiveram discursos emocionantes, como o de Richard Gadd, criador e protagonista de “Baby Reindeer”. Ao receber o prémio de Melhor Roteiro por Minissérie, Gadd relembrou a sua experiência traumática de há 10 anos, que inspirou a adaptação para a série da Netflix. “Nunca pensei que conseguiria ultrapassar o que me aconteceu, mas hoje, uma década depois, estou aqui com um prémio na maior cerimónia de televisão”, afirmou, num dos momentos mais marcantes da noite. Outro destaque foi Jodie Foster, que ganhou o seu primeiro Emmy, como Melhor Actriz numa Série Limitada, Antologia ou Telefilme, pelo seu papel em "True Detective: Night Country". A vencedora de dois Oscars superou concorrentes de peso como Sofia Vergara, Brie Larson, Juno Temple e Naomi Watts, tendo anteriormente sido nomeada como realizadora e produtora.

 

 

Para além dos prémios, as atenções estiveram também viradas para a passadeira vermelha, onde as celebridades desfilaram com looks elegantes. A cerimónia, que ocorreu pela segunda vez em 2024 após o adiamento do evento em 2023, teve como anfitriões a dupla elegante de pai e filho, Eugene e Dan Levy, que abriram a passadeira vermelha em fatos pretos sofisticados. Entre os destaques de moda, Selena Gomez brilhou num vestido personalizado da Ralph Lauren, adornado com cristais, enquanto Aja Naomi King impressionou com um mini-vestido rosa com uma cauda deslumbrante.

 


 


 




 

Mas fiquemos com a lista dos vencedores (em bold/negrito) dos Emmy 2024:

 


 

Melhor Série Dramática

  • The Crown

  • Fallout

  • The Gilded Age

  • The Morning Show

  • Mr. & Mrs. Smith

  • Shogun - Vencedora

  • Slow Horses

  • 3 Body Problem

 

Melhor Série de Comédia

  • Abbott Elementary

  • The Bear

  • Curb Your Enthusiasm

  • Hacks - Vencedora

  • Only Murders in the Building

  • Palm Royale

  • Reservation Dogs

  • What We Do in the Shadows

 

Melhor Minissérie

  • Baby Reindeer - Vencedora

  • Fargo

  • Lessons in Chemistry

  • Ripley

  • True Detective: Night Country

 

Melhor Actor principal numa série dramática

  • Idris Elba (Hijack)

  • Donald Glover (Mr. & Mrs. Smith)

  • Walton Goggins (Fallout)

  • Gary Oldman (Slow Horses)

  • Hiroyuki Sanada (Shogun) - Vencedor

  • Dominic West (The Crown)

 

Melhor Actor secundário numa série dramática

  • Tadanobu Asano (Shogun)

  • Billy Crudup (The Morning Show) - Vencedor

  • Mark Duplass (The Morning Show)

  • Jon Hamm (The Morning Show)

  • Takehiro Hira (Shogun)

  • Jack Lowden (Slow Horses)

  • Jonathan Pryce (The Crown)

 

Melhor Actriz principal numa série dramática

  • Jennifer Aniston (The Morning Show)

  • Carrie Coon (The Gilded Age)

  • Maya Erskine (Mr. & Mrs. Smith)

  • Anna Sawai (Shogun) - Vencedora

  • Imelda Staunton (The Crown)

  • Reese Witherspoon (The Morning Show)

 

Melhor Actriz secundária numa série dramática

  • Christine Baranski (The Gilded Age)

  • Nicole Beharie (The Morning Show)

  • Elizabeth Debicki (The Crown) - Vencedora

  • Greta Lee (The Morning Show)

  • Lesley Manville (The Crown)

  • Karen Pittman (The Morning Show)

  • Holland Taylor (The Morning Show)

 

Melhor Escrita numa série dramática

  • Peter Morgan, Meriel Sheibani-Clare (The Crown)

  • Geneva Robertson-Dworet, Graham Wagner (Fallout)

  • Francesca Sloane, Donald Glover (Mr. & Mrs. Smith)

  • Rachel Kondo, Justin Marks (Shogun)

  • Rachel Kondo, Caillin Puente (Shogun)

  • Will Smith (Slow Horses) - Vencedor

 

Melhor Realização numa série dramática

  • Stephen Daldry (The Crown)

  • Mimi Leder (The Morning Show)

  • Hiro Murai (Mr. & Mrs. Smith)

  • Frederick E.O. Toye (Shogun) - Vencedor

  • Saul Metzstein (Slow Horses)

  • Salli Richardson-Whitfield (Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty)

 

Melhor Actor principal numa série de comédia

  • Matt Berry (What We Do in the Shadows)

  • Larry David (Curb Your Enthusiasm)

  • Steve Martin (Only Murders in the Building)

  • Martin Short (Only Murders in the Building)

  • Jeremy Allen White (The Bear) - Vencedor

  • D'Pharaoh Woon-A-Tai (Reservation Dogs)

 

Melhor Actor secundário numa série de comédia

  • Lionel Boyce (The Bear)

  • Paul W. Downs (Hacks)

  • Ebon Moss-Bachrach (The Bear) - Vencedor

  • Paul Rudd (Only Murders in the Building)

  • Tyler James Williams (Abbott Elementary)

  • Bowen Yang (Saturday Night Live)

 

Melhor Actriz principal numa série de comédia

  • Quinta Brunson (Abbott Elementary)

  • Ayo Edebiri (The Bear)

  • Selena Gomez (Only Murders in the Building)

  • Maya Rudolph (Loot)

  • Jean Smart (Hacks) - Vencedora

  • Kristen Wiig (Palm Royale)

 

Melhor Actriz secundária numa série de comédia

  • Carol Burnett (Palm Royale)

  • Liza Colón-Zayas (The Bear) - vencedora

  • Hannah Einbinder (Hacks)

  • Janelle James (Abbott Elementary)

  • Sheryl Lee Ralph (Abbott Elementary)

  • Meryl Streep (Only Murders in the Building)

 

Melhor Realização numa série de comédia

  • Randall Einhorn (Abbott Elementary)

  • Christopher Storer (The Bear) - Vencedor

  • Ramy Youssef (The Bear)

  • Guy Ritchie (The Gentlemen)

  • Lucia Aniello (Hacks)

  • Mary Lou Belli (The Ms. Pat Show)

 

Melhor Escrita numa série de comédia

  • Quinta Brunson (Abbott Elementary)

  • Christopher Storer, Joanna Calo (The Bear)

  • Meredith Scardino, Sam Means (Girls5eva)

  • Lucia Aniello, Paul W. Downs, Jen Statsky (Hacks) - Vencedores

  • Chris Kelly, Sarah Schneider (The Other Two)

  • Jake Bender, Zach Dunn (What We Do in the Shadows)

 


Melhor Actor principal numa minissérie

  • Matt Bomer (Fellow Travelers)

  • Richard Gadd (Baby Reindeer) - Vencedor

  • Jon Hamm (Fargo)

  • Tom Hollander (Feud: Capote vs. The Swans)

  • Andrew Scott (Ripley)

 

Melhor Actor secundário numa minissérie

  • Jonathan Bailey (Fellow Travelers)

  • Robert Downey Jr. (The Sympathizer)

  • Tom Goodman-Hill (Baby Reindeer)

  • John Hawkes (True Detective: Night Country)

  • Lamorne Morris (Fargo) - Vencedor

  • Lewis Pullman (Lessons in Chemistry)

  • Treat Williams (Feud: Capote vs. The Swans)

 

Melhor Actriz principal numa minissérie

  • Jodie Foster (True Detective: Night Country) - Vencedora

  • Brie Larson (Lessons in Chemistry)

  • Juno Temple (Fargo)

  • Sofia Vergara (Griselda)

  • Naomi Watts (Feud: Capote vs. The Swans)

 

Melhor Actriz secundária numa minissérie

  • Dakota Fanning (Ripley)

  • Lily Gladstone (Under the Bridge)

  • Jessica Gunning (Baby Reindeer) - Vencedora

  • Aja Naomi King (Lessons in Chemistry)

  • Diane Lane (Feud: Capote vs. The Swans)

  • Nava Mau (Baby Reindeer)

  • Kali Reis (True Detective: Night Country)

 

Melhor Realização numa minissérie

  • Weronika Tofilska (Baby Reindeer)

  • Noah Hawley (Fargo)

  • Gus Van Sant (Feud: Capote vs. The Swans)

  • Millicent Shelton (Lessons in Chemistry)

  • Steven Zaillian (Ripley) - Vencedor

  • Issa López (True Detective: Night Country)

 

Melhor Escrita numa minissérie

  • Richard Gadd (Baby Reindeer) - Vencedor

  • Charlier Brooker (Black Mirror)

  • Noah Hawley (Fargo)

  • Ron Nyswaner (Fellow Travelers)

  • Steven Zaillian (Ripley)

  • Issa López (True Detective: Night Country)

 

Melhor Série animada

  • Blue Eye Samurai - Vencedora

  • Scavengers Reign

  • The Simpsons

  • X-Men '97

 

Melhor Talk Show

  • The Daily Show - Vencedor

  • Jimmy Kimmel Live!

  • Late Night with Seth Myers

  • The Late Show with Stephen Colbert

 

Melhor Programa de Reality TV

  • The Amazing Race

  • RuPaul's Drag Race

  • Top Chef

  • The Traitors - Vencedor

  • The Voice

 

Melhor Série de variedades com guião

  • Last Week Tonight with John Oliver - Vencedor

  • Saturday Night Live

 

Melhor Escrita para série de variedades

  • The Daily Show

  • Last Week Tonight with John Oliver - Vencedor

  • Saturday Night Live

 

Melhor Especial de Variedades ao vivo

  • The Apple Music Super Bowl LVIII Halftime Show Starring Usher

  • 66th Grammy Awards

  • The Greatest Roast of All Time: Tom Brady

  • The Oscars - Vencedor

  • 76th Annual Tony Awards

 

Melhos Escrita para um especial de Variedades

  • Alex Edelman (Just For Us) - Vencedor

  • Jacqueline Novak (Get On Your Knees)

  • John Early (Now More Than Ever)

  • Mike Birbiglia (The Old Man and the Pool)

  • The Oscars

 

Prémio Governors

  • Greg Berlanti - Vencedor

 

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