Desligarmo-nos do telemóvel exige coragem, verdade? As férias deveriam ser sinónimo de descanso, mas, infelizmente, nem sempre é assim. Talvez porque, em Portugal, ainda são um privilégio para muitos. De acordo com dados do INE, cerca de 31% dos portugueses não conseguem pagar uma semana de férias fora de casa por ano (dados de 2024). E mesmo para quem consegue, a verdade é que estas acabam, muitas vezes, por se tornar uma corrida contra o tempo para “recarregar baterias” antes do regresso ao trabalho.

 

Confesso que também já senti isso. Aquele paradoxo estranho: finalmente tenho uns dias livres e, em vez de relaxar, sinto-me ansioso. Às vezes, até me custa desligar do telemóvel, das notificações, dos e-mails... Parece que o mundo vai desmoronar se eu não responder de imediato. E a realidade de muitos portugueses não ajuda. Conheço histórias que podiam ser as minhas ou as vossas: a Rita, que trabalha numa loja no centro de Lisboa e, nos dias “livres”, está sempre de sobreaviso para substituir colegas; o Pedro, dono de um pequeno alojamento local em Cascais, que passa as férias a correr atrás de check-ins e check-outs ou a Carla, empregada num restaurante de praia no Algarve, que diz detestar os dias de folga porque só consegue pensar no caos que a espera no regresso.

 

Sei bem o que eles sentem. E talvez por isso me tenha identificado tanto com as palavras do filósofo Juan Evaristo Valls, que diz que “as férias têm a ver com vacar, deixar um espaço vazio, estar incomunicável… e isso exige muita força”. O tal vazio que já não sabemos suportar...

 

 

Parece-me que já não sabemos estar parados. O tempo lento do verão, aquele em que podíamos perder horas a contemplar o mar, a ler sem pressa ou a fazer sestas intermináveis, está a desaparecer. Em parte, porque as condições de vida e de trabalho se tornaram mais exigentes, por outro lado, parte porque o próprio sistema em que vivemos nos habituou a procurar sempre estímulos.

 

E quando finalmente paramos, sentimos… desconforto. A terapeuta Itziar Torres explica que “o corpo não funciona assim: não lhe dizemos relaxa e ele relaxa”. É quase como se tivéssemos desaprendido a descansar. Muitas pessoas sentem ansiedade nos primeiros dias de férias: desligar do modo “produtivo” é mais difícil do que parece.

 

 

As armadilhas do “weisure”

 

Outra armadilha dos tempos modernos é o chamado weisure, a fusão entre trabalho (work) e lazer (leisure - percebem melhor agora o nome do meu blog?). Quem nunca levou o portátil “só para despachar umas coisas” nas férias? Ou quem não aproveitou para atualizar as redes sociais com fotos bonitas de forma quase estratégica, como se estivéssemos a “alimentar a nossa marca pessoal”?

 

O problema é que esta pressão subtil nos impede de descansar. Até as experiências de férias se transformam em check lists: “visitar o monumento X”, “experimentar o restaurante Y”, “tirar a foto Z para o Instagram”. No fim, acabamos por regressar exaustos, com a sensação de que o tempo voou.

 

 

O descanso é (quase) um acto de resistência

 

Hoje, percebo que descansar não é apenas parar. É, de certa forma, um acto de resistência. Exige decisão e disciplina: desligar o telemóvel, não responder a mensagens, dizer que “não” a mais trabalho. E, sim, também é um privilégio. Em Portugal, muitos não podem simplesmente desligar-se. Entre rendas elevadas, salários curtos e a instabilidade de tantos empregos, o descanso ainda é um "luxo".

 

Mas talvez possamos começar por pequenas coisas: deixar espaços no dia para não fazer nada, aceitar o tédio, andar sem rumo (literalmente), resistir à tentação de estar sempre “ligado”. Como diz Valls, “a incapacidade de parar tem a ver com a incapacidade de pensar e vice-versa”.

 


Este verão, mais do que “recarregar baterias”, quero experimentar algo diferente: ficar realmente vazio, no melhor sentido. E quem sabe, assim, descobrir o que é descansar de verdade. Vamos todos procurar fazer o mesmo? Vamos tentar aplicar isto na nossa vida. Ainda não é fácil. Lutamos contra aquela voz que nos diz que precisamos ser “produtivos”, que estamos a desperdiçar o tempo. Mas eu quero mudar. Porque o descanso não é um luxo supérfluo: é essencial. É o espaço onde podemos voltar a ser nós próprios, sem prazos, sem notificações, sem pressão. E vocês, conseguem mesmo desligar quando estão de férias?

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Durante anos, e como fã de super-heróis que sou, assisti com uma espécie de esperança teimosa a todas as tentativas (não muito bem conseguidas, diga-se de passagem) de adaptar o Quarteto Fantástico ao grande ecrã. Sempre gostei da ideia de uma família de super-heróis que não precisavam de capas ou egos insuflados para serem relevantes, apenas de laços genuínos, afectos reais e conflitos humanos. Mas Hollywood parecia insistir em reduzi-los a caricaturas planas. Até agora.

 

Com “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, tive, finalmente, a sensação de estar a ver um filme com alma. A primeira família da Marvel chega ao MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) não como mais uma engrenagem no multiverso, mas como uma unidade emocional coesa, com dilemas e virtudes que ressoam para lá dos efeitos visuais. Este não é apenas um filme de super-heróis. É um filme sobre família e isso faz toda a diferença. E depois do recente “Superman”, da DC, é uma realidade: os super-heróis estão a ser retratados com mais humanidade.

 


Realizado por Matt Shakman, a mente por trás de “WandaVision” (a série da Marvel para streaming), o filme tem um tom emocionalmente inteligente, esteticamente distinto e narrativamente bem estruturado. Há ecos da estética retro-futurista de Jack Kirby e Stan Lee, mas também uma abordagem moderna e intimista, muito própria, onde os silêncios e os olhares contam tanto como as explosões.

 

 

Sim, um dos aspetos que mais me fascinou foi o ambiente retro-futurista que permeia todo o filme. Há uma estética muito marcada dos anos 50 e 60, dos cortes de cabelo e penteados aos trajes científicos, dos carros às decorações, como se o tempo tivesse congelado numa era de otimismo tecnológico, mas com acesso a uma ciência muito avançada que transcende tudo o que conhecemos. É como assistir a um episódio dos The Jetsons reimaginado por Kubrick, onde o passado sonha com o futuro, mas sem perder a ingenuidade do olhar original. Esta escolha não é apenas visual; ela confere identidade ao filme e torna o mundo do Quarteto Fantástico distintamente seu: familiar e nostálgico, mas também ousadamente visionário.

 


O elenco, então, é de luxo e funciona maravilhosamente bem como conjunto. Pedro Pascal é Reed Richards, a mente brilhante com o coração dividido. Vanessa Kirby é uma Sue Storm com uma profundidade raramente vista em personagens femininas do género: complexa, determinada, vulnerável e poderosa. Joseph Quinn traz humor e carisma a Johnny Storm, e Ebon Moss-Bachrach emociona como o Ben Grimm mais humano de todos até agora.

 

E se a ideia de “fatiga de super-heróis” paira sobre algumas estreias, confesso: não me identifico. Nunca me cansei de boas histórias bem contadas. O problema, quase sempre, não são os superpoderes, é a falta de substância. Mas este “Primeiros Passos” tem essa substância. A banda sonora de Michael Giacchino faz arrepiar, a direção de arte é sublime e há espaço para emoção, sacrifício, dilemas éticos e... família, acima de tudo.

 

Gostei especialmente da forma como o filme explora a individualidade dentro do coletivo. Cada um dos quatro enfrenta os seus próprios fantasmas, e os poderes são quase secundários perante as decisões que têm de tomar. O tema da maternidade, por exemplo, é central para Sue. E há momentos, como o que envolve o pequeno Franklin Richards, que tocam fundo, porque nos recordam que o verdadeiro heroísmo, muitas vezes, passa pelo que estamos dispostos a perder por amor.

 


Claro que o CGI não é sempre perfeito (os efeitos do Reed continuam a ter aquele “quê” de estranho), mas, francamente, não me incomodou. O foco está nas personagens, não nas luzes ou explosões. Galactus, interpretado por Ralph Ineson, é uma presença imponente e fria, e Julia Garner surpreende como uma Surfista Prateada mais etérea do que cósmica, embora algo subaproveitada, admito.

 

Há um lado quase simbólico em ver esta família finalmente tratada com o respeito que merece. Durante décadas, o Quarteto Fantástico foi uma promessa por cumprir. Agora, com “Primeiros Passos”, essa promessa começa a materializar-se. É um filme com alma, com textura, com emoção. E, numa altura em que a Marvel parece procurar reencontrar o seu caminho, esta aposta mais contida, mais sensível e mais humana pode muito bem ser o novo rumo que o estúdio precisava. A crítica gostou, o público está a reagir com entusiasmo, e talvez o mais importante, os fãs, como eu, sentem-se finalmente representados.

 

 

Se é o melhor filme do MCU? Provavelmente, não. Mas é, sem dúvida, a melhor adaptação do Quarteto até à data. E isso, depois de tantos tropeços, já é uma enorme vitória.

 


 

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Confesso: nunca fui fã de ginásios, nem de grandes planos de treino. Mas há hábitos que, quase sem darmos por isso, fazem bem ao corpo, à mente… e ao nosso dia a dia. Um deles tem agora nome: phonning. Já tinham ouvido falar?

Pode parecer um estrangeirismo (e é), mas o conceito não podia ser mais simples e mais português, até. Trata-se de caminhar enquanto se fala ao telefone. Isso mesmo! Pegar no telemóvel, atender uma chamada e, em vez de nos sentarmos no sofá ou ficarmos parados, começamos a andar. Pela casa, pelo escritório, pela rua. O que antes era um gesto automático, hoje pode ser uma forma consciente de cuidar de nós.

 

 

Recentemente, li que mais de 31 milhões de espanhóis já o fazem. E com razão. Afinal, o phonning é uma resposta prática a um dos maiores dramas modernos: a falta de tempo. Não exige ténis de corrida, nem leggings, nem horários marcados. Apenas dois pés e uma boa conversa. Segundo dados da Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC) de Espanha, em 2023 cada espanhol falou, em média, 40,29 horas ao telemóvel. Se considerarmos uma velocidade média de caminhada de 4,5 km/h, isso significa que um phonner percorre cerca de 181 quilómetros por ano, ou seja, mais de quatro maratonas, simplesmente a falar e a andar. Impressionante, não é? Um dado curioso que mostra como pequenos gestos acumulam grandes efeitos, mesmo sem darmos por isso.

Além disso, faz maravilhas ao coração, literalmente. Melhora a circulação, ajuda a controlar o peso, tonifica as pernas e até reforça os ossos. Mas o que mais me atrai é o lado mental: aquela sensação de bem-estar, quase como se cada passo servisse para aliviar uma preocupação. E, quando conversamos com alguém de quem gostamos, esse efeito é ainda mais poderoso.

 


Tenho dado por mim a aproveitar as chamadas com amigos, ou até reuniões telefónicas, para me pôr a mexer. Nem sempre consigo sair de casa, por isso caminho entre divisões, às vezes com música de fundo, outras vezes só com o som da voz do outro lado. E sabem que mais? Sabe-me bem. E sabe-me bem saber que estou a fazer algo por mim, mesmo que seja algo tão simples. Não digo que isto substitua um passeio à beira-mar ou uma ida ao ginásio (para quem não falha, claro), mas digo com certeza: o phonning faz sentido. E talvez devêssemos falar mais sobre estas pequenas formas de nos mexermos, sem pressão, sem metas inalcançáveis, sem culpa.

 


E se pensarmos bem, estamos sempre agarrados ao telemóvel, então, por que não usar esse tempo a nosso favor? A chamada com o Banco, a conversa com a tia, o amigo que não vemos há meses… tudo pode ser feito em movimento. Mesmo num dia de chuva, dentro de casa, o importante é o gesto: levantar-nos, dar uns passos, sair da estagnação. Há inclusive empresas que estão a incentivar os colaboradores a fazer chamadas em pé, a andar pelos corredores durante reuniões, a integrar este movimento no ambiente de trabalho. Não custa tentar. Aliás, custa mais ficar parado.

No fundo, o phonning é isso: um pequeno ritual de cuidado próprio, escondido no meio da rotina. Não há desculpas. Apenas o convite discreto de cuidarmos de nós, passo a passo, palavra a palavra. E se há tendência que vale a pena seguir, é esta. Porque no fundo, o phonning não requer ginásios, nem planos de fitness complexos. Requer apenas consciência, vontade de cuidar de nós e, claro, uma boa conversa ao telefone.

 


 

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Sempre gostei de descobrir histórias que surpreendem, especialmente quando mostram como as aparências podem esconder verdadeiros génios. A mais recente que me deixou fascinado é a de Hedy Lamarr. Provavelmente, muitos de vocês já ouviram este nome, talvez por filmes antigos de Hollywood ou pelas capas de revistas da época dourada do cinema. Mas sabiam que ela está na origem da tecnologia que hoje usamos no Wi-Fi, no Bluetooth e até no GPS?



Sim, Hedy Lamarr não foi apenas uma das atrizes mais deslumbrantes dos anos 30 e 40. Nascida Hedwig Eva Maria Kiesler, em Viena, em 1914, Hedy foi uma das grandes estrelas da Era Dourada do cinema norte-americano, conhecida por papéis em filmes como "Êxtase" (1933), onde protagonizou o primeiro nu integral da história do cinema, "Argélia" (1938), "Sansão e Dalila" (1949), e "A Mulher Estranha" (1946), entre outros. Um documentário sobre sua a vida, "Bombshell: A História de Hedy Lamarr", foi lançado em 2017.



De facto, a sua beleza era tão marcante que dizem que Walt Disney se inspirou nela para criar o rosto da Branca de Neve, aquela primeira princesa animada da Disney que encantou o mundo em 1937. A delicadeza dos traços, os olhos expressivos, o cabelo negro ondulado de Brance de Neve... tudo remetia a Hedy. No entanto, o que muitos não sabem é que, por trás do rosto que inspirou a Branca de Neve da Disney, escondia-se uma mente verdadeiramente visionária. Sem dúvida, a verdadeira surpresa está nos bastidores da sua vida.

 

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, já a viver nos Estados Unidos, Hedy sentia-se frustrada por não poder contribuir de forma mais direta com o esforço de guerra. Tinha um espírito inquieto e uma inteligência que ia muito além dos papéis que lhe davam no cinema. Em parceria com o compositor George Antheil, que também era um inventor, criou um sistema de comunicações que permitia alterar as frequências de transmissão de forma contínua, tornando os sinais praticamente impossíveis de serem interceptados. Uma tecnologia inovadora que viria a ser essencial, anos depois, para a criação das comunicações sem fios que usamos hoje.

 


Em 1942, obtiveram a patente n.º 2.292.387 para este sistema, pensado originalmente para proteger as comunicações navais dos Aliados. Mas, por ser mulher e atriz, ninguém levou a ideia a sério na altura. Só décadas mais tarde é que a invenção foi redescoberta e aplicada. E hoje, sem sabermos, usamos diariamente algo que começou com o génio de Hedy - a base tecnológica para sistemas atuais como o Wi-Fi, o Bluetooth e o GPS.

 

 

Foi apenas em 1997 que ela recebeu o devido reconhecimento pela sua contribuição para a ciência e tecnologia, com um prémio da Electronic Frontier Foundation. Tarde demais, talvez, mas nunca tarde para contarmos a sua história. Ou seja, enquanto encantava o público com a sua presença no grande ecrã, Hedy Lamarr, sem formação académica formal em engenharia, estava a antecipar as bases da comunicação sem fios moderna, sendo lembrada como uma verdadeira precursora na ciência e tecnologia.



Confesso que fiquei tocado por este lado tão inesperado de alguém que o mundo conhecia apenas como “a mulher mais bonita do cinema”. A verdade é que Hedy Lamarr foi uma visionária. E, como tantas outras figuras esquecidas, merece ser lembrada não só pela beleza ou pela fama, mas pelo impacto invisível que teve no nosso presente.

 


Lamarr é o exemplo fascinante de como o talento e a inteligência podem coexistir nos lugares menos esperados, rompendo estereótipos e inspirando novas gerações. Talvez por isso seja tão importante contarmos estas histórias, porque inspiram, porque corrigem o passado e porque nos mostram que genialidade não tem um rosto só.

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O Super-Homem está de volta e, desta vez, com um coração maior do que o próprio planeta Terra. É raro sairmos do cinema com a sensação de que acabámos de assistir a algo que marca um novo ponto de viragem. Mas foi exatamente isso que senti ao ver “Superman”, o novo filme de James Gunn, que não só relança o universo cinematográfico da DC Comics, como recupera a essência do herói mais icónico da cultura pop com alguma frescura, humanidade e… um toque de Portugal.

 


Sim, Portugal. Porque entre os nomes sonantes do elenco, como David Corenswet como Superman, Rachel Brosnahan como Lois Lane e Nicholas Hoult num Lex Luthor deliciosamente maquiavélico, está também Sara Sampaio, a nossa top model que dá agora um passo firme no mundo da representação. Sara interpreta Eve Teschmacher, a assistente (e amante) do vilão Luthor, numa versão da personagem que ganha mais protagonismo e carisma do que nunca. E a verdade é que ela está fantástica: segura, divertida e cheia de presença. Nota-se que está a levar esta nova fase da carreira muito a sério.

 


Mas voltemos ao filme. Gunn, que já nos conquistou com “Guardiões da Galáxia”, troca aqui os heróis desajustados do espaço pelo mais icónico dos escuteiros intergalácticos, e fá-lo com uma visão clara: este não é apenas o Superman dos músculos ou dos feitos impossíveis. É o Superman do olhar compassivo, do gesto gentil, da esperança inabalável na bondade da humanidade. E isso, no meio do ruído atual do mundo e do cansaço do próprio género de super-heróis, é revolucionário.

 


O filme abre em plena ação, como se estivéssemos a folhear uma BD a meio da história e, estranhamente, isso funciona. Clark já é Superman há três anos, já salvou o mundo algumas vezes, e já começou a sentir o peso das dúvidas da humanidade sobre a sua presença. James Gunn recusa-se a perder tempo com a enésima recontagem da origem kryptoniana, apostando antes numa narrativa que confia no público e mergulha de cabeça num universo já a fervilhar de meta-humanos, dilemas éticos e ameaças políticas.

 


David Corenswet, até agora um rosto promissor, mas pouco conhecido, surpreende com uma prestação que combina doçura e força. O seu Clark Kent é tímido e bem-intencionado, o seu Superman, imponente, mas acessível. É fácil gostar dele o que, acreditem, faz toda a diferença. E a química com Rachel Brosnahan é explosiva: divertida, tensa, romântica e até política, como uma boa relação entre jornalistas e deuses deve ser.

 

 

Visualmente, o filme é um delírio. Luz, cor, acção coreografada com alma de banda desenhada e efeitos práticos que deixam a boca aberta, tudo aqui grita “aventura”, sem nunca se tornar ruidoso ou gratuito. A banda sonora é arrebatadora, e há sequências (como a batalha final ou a cena de salvação com o esquilo, sim, um esquilo) que ficam na memória como pequenos hinos à esperança.

 


Claro que nem tudo é perfeito. Há momentos em que o filme tenta agarrar demasiados fios narrativos de uma só vez, e algumas personagens secundárias parecem apenas preparar terreno para os próximos capítulos do DCU. Mas mesmo isso, essa construção de mundo, é feita com cuidado, e dá vontade de ver mais. E sim, há várias surpresas, easter eggs e cenas pós-créditos finais que vão deixar os fãs, como eu, com um sorriso cúmplice.

 


Em tempos de cinismo e sarcasmo fáceis, “Superman” ousa ser sincero. Ousa acreditar que um herói ainda pode ser bom, que salvar uma criança (ou um cão, ou um esquilo) ou ainda por ficar emocionado com a "morte" de um robot, ainda é suficiente para fazer a diferença. Ousa mostrar que, no fundo, o verdadeiro poder de Clark Kent não vem apenas do sol amarelo ou da Fortaleza da Solidão no Alasca, mas da sua humanidade. E é isso que torna este filme especial.

 


Ah, e quanto ao sucesso nas bilheteiras? Só nas pré-estreias nos EUA, “Superman” já arrecadou mais de 21 milhões de dólares, a maior de 2025 até agora e um recorde na carreira de Gunn. A DC espera ultrapassar os 500 milhões a nível mundial. Tudo indica que vai conseguir. E, se o resto do DCU mantiver este nível, podem contar comigo na primeira fila.

 


 

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Após ter visto o novo filme “F1” com o Brad Pitt, ainda estou a processar tudo o que senti. O som dos motores, o suor dos pilotos, o peso das decisões em milésimos de segundo… Tudo me apanhou de surpresa, apesar de eu já admirar o universo da F1 há algum tempo. Mas este filme teve outro impacto: despertou em mim uma vontade enorme de mergulhar mais fundo neste mundo e, claro, de partilhar convosco.

 

Por isso, fui à procura de curiosidades sobre este desporto que tanto fascina, e descobri coisas que, honestamente, não fazia ideia. Porque a F1 não é apenas supercarros e bandeiras axadrezadas. Desde os pilotos que perdem quilos a meio da corrida até à primeira corrida noturna, estes factos surpreendentes vão mudar a vossa perspetiva. Aqui vos deixo 7 curiosidade sobre a Fórmula 1 que me deixaram de boca aberta e que fazem ainda mais sentido depois de ver o filme.

 


1. A primeira corrida noturna foi um divisor de águas

Sabiam que a F1 só teve a sua primeira corrida à noite em 2008? Foi em Singapura e desde então, o glamour das luzes artificiais sobre os carros em alta velocidade tornou-se um verdadeiro espetáculo. O filme capta lindamente essa estética: a pista iluminada, o suor a brilhar no capacete, o drama sob os holofotes.

 


2. Os pilotos perdem até 4 kg numa única corrida

Quatro quilos! Sim, leram bem. Entre o calor do cockpit (que pode chegar aos 60 °C), a pressão constante e a desidratação, os pilotos saem do carro exaustos e mais leves. Quando vi o Brad Pitt no papel, senti mesmo essa intensidade física. Não é só acelerar, é resistir.

 

 

3. Um carro de F1 só dura cerca de 7 corridas

Ao contrário dos carros de estrada, estes bólides de corrida, especificamente os seus motores e caixas de velocidades, duram apenas sete corridas antes de as equipas os trocarem. Todas as corridas ultrapassam os limites da velocidade, da força G e dos materiais de ponta. Depois do filme, ganhei uma nova perspetiva neste âmbito.

 

 

4. Os volantes são mais complexos do que parecem

Nunca mais vou olhar para um volante de F1 da mesma maneira. Têm até 25 botões (!) e controlam tudo: gestão de energia, travões, comunicação com a equipa, modos de motor… É quase como pilotar uma nave espacial em alta velocidade. No filme, há cenas em que isso fica bem evidente, pois o lado técnico é brutal.

 


5. A Fórmula 1 quer ser neutra em carbono até 2030

Este foi um dos factos que mais me surpreendeu. A F1 está a investir fortemente em combustíveis sustentáveis e em tecnologias verdes. A imagem de um desporto poluente começa a dar lugar a uma visão mais responsável e futurista. E esse lado visionário também está presente no filme, já que há uma preocupação em mostrar para onde o desporto caminha.

 

 

6. Inclusão e diversidade também fazem parte da pista

Com a iniciativa #WeRaceAsOne, a F1 tem vindo a abraçar causas sociais, como a luta contra o racismo e a promoção da igualdade. Isto tocou-me particularmente, porque acho fundamental que até os desportos mais tradicionais se adaptem aos tempos. É mais do que velocidade, é consciência.



7. Mulheres ao volante (e com garra)

Sabiam que apenas cinco mulheres correram na F1 desde 1950? A última a marcar pontos foi Lella Lombardi, em 1975. Felizmente, isso está a mudar com a criação da F1 Academy, que visa apoiar novas gerações femininas no desporto. Esta nova fase está no espírito do filme, pelo que espero ver mais representação no futuro, dentro e fora do ecrã.

 


 

Portanto, ver o Brad Pitt neste papel foi mais do que entretenimento. Foi um despertar. Um olhar mais humano, mais cru, mais íntimo sobre aquilo que sempre vi de longe como um desfile de carros potentes. Hoje, percebo que a Fórmula 1 é muito mais do que isso: é sacrifício, estratégia, evolução e também emoção pura.

 

Se ainda não viste o filme, recomendo vivamente. E se fores como eu, vais sair da sala com o coração a acelerar... e com vontade de ficar a saber mais sobre este universo fascinante.

 

 

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Há muito que o cinema não nos presenteava com uma experiência tão imersiva e vibrante como “F1 - O Filme”. Estive a vê-lo recentemente, em modo de antestreia, graças à Xenica Jardim e a Cinemundo, e, confesso, saí da sala empolgado, com o coração acelerado, não só pela velocidade dos bólides, mas pelo impacto sensorial que este filme consegue provocar. Se “Top Gun: Maverick” nos fez voar novamente com orgulho pelo cinema americano clássico, este "F1" atira-nos diretamente para o cockpit e faz-nos sentir cada curva como se estivéssemos lá dentro.

 

Quanto ao fio condutor, Brad Pitt dá corpo a Sonny Hayes, uma lenda caída da Fórmula 1 dos anos 90, apelidado de “o maior que nunca foi”. Um acidente trágico travou a sua ascensão meteórica. Três décadas depois, é recrutado por Ruben Cervantes (Javier Bardem) para salvar uma equipa fictícia à beira da extinção, a APXGP, e, quem sabe, resgatar a sua própria redenção. Ao seu lado, está Joshua Pearce (Damson Idris), o prodígio que quer provar que já não há espaço para heróis do passado. O duelo entre os dois, entre experiência e arrojo, entre glória e promessa, é o eixo central de uma história algo previsível, mas eficaz.

 


Joseph Kosinski, o realizador que já nos deixou colados às cadeiras no mencionado “Maverick”, volta a acertar em cheio. E fá-lo com a mestria técnica que se exige hoje: mais de uma dúzia de câmaras por carro, gravações em circuitos reais da Fórmula 1, sequências filmadas durante Grandes Prémios, e até iPhones acoplados ao interior dos veículos. Tudo com o selo de autenticidade da FIA e o dedo certeiro de Lewis Hamilton na produção. O resultado? Um realismo quase inédito, em 8K e com Hans Zimmer a alavancar cada cena.

O argumento, assinado por Ehren Kruger, não foge muito ao clássico arco da superação. Mas isso não o diminui: os clichés estão lá, sim, mas sabem ao conforto de uma história bem contada. Brad Pitt encarna aquele arquétipo que tanto conhecemos: o herói relutante, marcado pela vida, mas que ainda tem algo para dar. E dá. Com carisma, com charme, com talento. Pena que o restante elenco não tenha tido a mesma profundidade de desenvolvimento, com especial destaque (negativo) para a personagem de Kerry Condon, que personifica Kate McKenna, que começa de forma interessante e promissora, mas é subaproveitada num papel que recai em velhos estereótipos.

 


A verdade é que “F1” não quer reinventar a roda narrativa. O que quer, e consegue, é recuperar a magia do cinema-espetáculo. Aquele que se vive na sala escura, com o som a vibrar nas paredes, com os travões a chiar nos nossos ouvidos, com a tensão a subir a cada ultrapassagem. É um blockbuster na melhor acepção da palavra. E, a julgar pelos mais de 290 milhões de dólares já arrecadados em bilheteira, não sou o único a pensar assim. E também é daqueles filmes que "exige" ser visto (e sentido) numa sala de cinema.

Portanto, se gostam de cinema que se sente no corpo, de corridas que levantam poeira emocional e de heróis imperfeitos que se recusam a ficar sentados, então “F1 - O Filme” é destinado a vocês. Não é perfeito, mas também não precisa de ser. É direto, pulsante e vale cada segundo. E, convenhamos, ver Brad Pitt aos 60 anos a "devorar" curvas com aquela intensidade… é um espetáculo à parte.

 


Em suma? “F1” é velocidade, nostalgia e espetáculo. E eu, que nem sou aficionado por automobilismo, saí do cinema com vontade de ver a próxima corrida real. E isso diz tudo!

 


 

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